16 fevereiro 2006

Sobre águias, tigres e outras motivações.

Em 23 de agosto de 1973 proximo à praça de Norrmalmstorg localizada no centro da área comercial de Estolcomo, capital da Suécia ocorreu um evento onde a atitude de algumas mulheres foi batizada apartir daquele dia de Síndrome de Estolcomo. Após o assalto na área comercial da cidade, 3 mulheres foram feitas reféns durante 6 dias em um assalto a um banco. O mais estranho de tudo é que as mulheres reféns desenvolveram um relação muito especial com os raptores que 2 delas acabaram até casando com eles. Na época o criminólogo nomeou esse fato como síndrome de estolcomo, que hoje é comumente usado para referir-se a pessoas vítimas de algum tipo de privação roubo, sequestro, etc... Onde criam algum tipo de amizade ou compaixão pelos opressores, muitas vezes a ponto de retirar a queixa sobre o ocorrido.

Carnaval de 1996, Campos do Jordão. Lá estavam voltando para suas casas 5 jovens após 4 dias de acampamento. Naqueles 4 dias que fomos bombardeados emocionalmente pareciam que haviam nos mudado para sempre.
Num acampamento altamento estruturado, antes mesmo do café éramos submetidos a mesma sabatina. Éramos acordados as 06:00 da manhã e nos reuniamos em grupo de 4 pessoas para uma pequena devocional, ali naquele momento os sentimentos já afloravam. Aquele momento era quase uma troca de experiencias, cada um falava um pouco de sí, sobre seus problemas, seus anseios. Outros asseveravam sobre Deus em suas vidas. Ali cantávamos juntos, oravamos e não eram raras as vezes que todos ali voltavam para o café em prantos devido ao momento que haviamos tido.
Logo após o café da manhã iamos para a primeira palestra do dia no salão improvisado. Todo aquele ambiente ecológico conspirava a nosso favor.

Havia em nós um sentimento silencioso que criava em nós a utopia de um mundo perfeito ali naquele lugar. Todos ali não se sentiam apenas amigos, mas algo que não era nominavel, algo mais do que amizade pairava naquele lugar.

A palestra começava!
Após os cânticos que faziam o favor de nos colocar no clima, preparando-nos para ouvir a palestra, silenciamo-nos para ouvir o tal homem. Alguns silenciavam por completo, outros embanhavam-se de caneta e papel para anotar tudo.
O tal palestrante era alto, barbudo, o tom de sua voz era intimidador. Seu discurso era pesado, falava de culpa e da incapacidade que temos de perdoar. Toda sua palestra era pesada e nos fazia sentir culpados. Ali era colocado peso em nossos ombros, arqueavamos ante a isso e nos sentiamos mal. Ficava em nós a certeza que éramos nada mais que vermes.

Ao final, cabia a cada um orar com a pessoa do lado. A única coisa eu falava com minha parceira era apedir perdão. Ali pedia perdão até de coisas que estavam só na minha mente - mas verbalizei tudo naquele momento. Não chorar era impossivel. Vinha um choro de dentro da sua alma, um choro sentido que parecia verter toda sua entranha de sinceridade. As vezes vc sabia o real motivo do choro, outras vc não conseguia entender porque chorava, mas ainda sim era forte o sentimento, muito forte.

Terminava primeira palestra do dia e todos se abraçavam.
Na ordem o que seguia era para dispersarmos e termos 15 minutos de silencio absoluto para reflexão, após isso estávamos no nomento livre à espera pelo almoço.
Livre ? Tudo que aconteceu ali foi tão forte que as pessoas se reuniam em pequenos grupos para conversar, trocar experiencias. Quando se olhava em volta era possivel ver pessoas falando, chorando por todos os cantos.
Mesmo o momento sendo livre, pareciam que queriam cultivar aquilo ainda mais.
A noite era mesma coisa.. Após os cânticos ..um momento único de descontração onde a risada ficava descontrolada, ai vinha o momento da palestra. No momento da palestra estávamos quebrados, cansados mas querendo estar ali ainda. A palestra era com outro individuo, mas agora de fala mansa, palavras confortantes e com um discurso quase hipnótico. Sua palavras eram leves traziam paz e falavam vida, reflexão, amor...
A mesma vontade de chorar tomava conta de todos nós, mas a situação era outra, pois agora a vontade de chorar era de alegria e de plenitude por termos encontrado algo.

Essa situação seguiu até o ultimo dia de acampamento. Ao final do evento parecia que não saberíamos viver um sem o outro. Voltamos todos no onibus rumo a SP com uma ansiedade enorme e arrebatadora de anunciarmos aquela boa nova a todos. Todos tomados de uma alegria absurda e com um altruísmo incompreensível. Qualquer um puxasse assunto seria "catequisado" pela boa nova pela qual havíamos sido alcançado.

Para alguns, foram dias para outros semanas o tempo que durou toda aquela magia. Mas passou.

Pra que escrevi tudo isso ? Dias desses venho descobrindo que uma quantidade muito grande de pessoas próximas a mim que vem fazendo curso de liderança explosiva. A cada um que volta desse curso, diz ter visto o passarinho verde na montanha encantada.
É engraçado ver as pessoas encontrando a sí próprias. Mas apesar de nunca ter participado de nenhum curso desses, lembrei-me que tive tbem essas sensações que pareciam que iam mudar mundo a minha volta.
É bem verdade que tudo isso faz muito bem a nós. Os sintomas megalomaníacos passam em pouco tempo, mas algo bom sempre fica em nós.
Em mim fica a certeza que muitos mistérios existem entre o céu e a terra e principalmente além dele, e se fechar é isso é bobagem.
É sempre atual o que dizia o velho e endiabrado Raul: "Melhor ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opnião formada sobe tudo."

Mas na Fé que professo diria algo ainda. Deus é Deus de mudança, isso é tão verdade que mudou minha vida.

E tenho dito.

Fábio Fino