27 maio 2006

Jonas baleeiro e a história pelo avesso

Lembro-me quando criança, eu devia ter por volta dos 8 ou 9 anos de idade, na escola Domincal da minha igreja. Estávamos lá todo domingo passando pela “Sabatina Dominical” das tias-professoras. Aprendíamos todos os domingos a ter medo de Deus, daquele ser supremo que castigava e tinha uma voz grossa e não sorria nunca, mas que apesar da sutil sizudez sugerida nos amava sorbremaneira. Assim, contraditóriamente éramos “sabatinados”.

Um Deus pra mim um tanto desconfortável, já pensava eu longe com meus pensamentos.
A tia-professora contava a história do profeta Jonas, um cabra que havia se escondido desse Deus todo bravão, que mais me lembrava papai qdo ficava nervoso e nunca me lembrava papai qdo estava nos seus muitos momentos de bom humor.
Ali sentado junto com meus amiguinhos, percebia que jonas fez a mesma coisa que eu vivia a fazer: me esconder e fujir. A associação era inevitável.

O medo que era pouco a pouco incutido em minha cabeçinha, (não tão pequena por ser filho de baiano).
Todas as noites me esforçava numa masturbatória oração carregada de culpa forjada sob as labaredas do medo a me lembrar de cada pecadinho que havia cometido. Não queria ser engolido e depois regurgitado por uma baleia por desobedecer a Deus.

Criei uma identificação tremenda com o Jonas baleeiro. Aliás, qdo atrevi-me a interromper a aula e disse que jonas havia sido engolido por uma baleia, mais que depressa a Tia-professora-madrasta corrigiu-me prontamente com ares de autoridade vinda verticalmente de Deus:

- Nã, nã não! A Biblia diz apenas peixe grande. Não Diz que era uma baleia!

Ali tive a minha primeira aula de exegese e hermêutica da vida.
- Ora, aquilo só podia ser uma baleia - pensava comigo.
- Ou jonas seria uma espécie de Pigmeu-anão-raquítico que foi engolido por um salmão gigante que se perdeu do bando e foi parar naquelas estranhas águas quentes ?

Decididamente o teimoso Jonas que ousara fugir de Deus me intrigava.

Meses depois, devido a quantidade de crianças, a sala foi dividida em duas, eu mais que depressa garanti minha vaga na outra sala, queria ouvir outra professora. O tempo passou a mais uma vez é contada a história de Jonas. Perseguia-me tal saga.
No momento em que a outra-tia-professora contava a parte da história onde os homens tiraram a sorte para ver quem era o tal que deveria ser jogado pra fora do barco para que o encapelado mar se acalmasse, lancei minha dúvida:

- Tiraram a sorte ? Mas professora isso não é pecado ? Jogatina pode então ?
- Claro que ! não respondeu ela.
- Mas então porque Deus se manifestou através da tal jogatina ? Retrucava eu com o peito cheio de razão
Não me lembro ao certo a resposta, mas sei que foi tão longa que naquele dia ela nem terminou mais de contar a história do profeta fujão.

Me intrigava como Deus agiu com o profeta Jonas. Desobedecer a Deus era um perigo, as consequências podiam ser doídas.

Assim cresci no meio evangélico, cheio de traumas e num ambiente protegido que me despreparava para vida. Aprendi a crer num Deus intelectualmente, mas nunca fui estimulado a desafiar a Deus ou contrariá-lo, senti-lo.

A cada mudança na minha vida fui vendo pessoas que criam em Deus dessa forma, pela leitura que faziam das desgraças dos outros. Sua vidas foram sem graça, pois não tinham nada para contar de sí, eram sempre histórias e conselhos dos outros. Elas pareciam ter todas as respostas de todas as coisas, conquistadas pelo medo das consequências da realização, era pessoas secas. Trilhavam seus caminhos pela moralidade barata e medrosa que habita nas proximidades da fronteira da hipocrisia. Cresceram assim, cegaram-se assim e hoje ensinam a não ver também. Vivem com um cabresto e consideram isso normal. O cabresto é a segurança do não-pecado pelo preço do não-entendimento.

Mas eu escolhi desde sempre, trilhar outro caminho. Decidi agir como Deus me criou para agir: como ser humano. Como tal, desejo trilhar meu caminho e só ouvir a vóz de Deus qdo Ele falar realmente comigo, e nunca pela análise preconceituosa da vida dos outros. Talvez também pela poesia da vida. Experimentar a Deus como um ser que sou de carne e osso que tem sentimentos e que não vive no auto-engano. E crer num Deus grandão, mas gente boa que me conhece muito bem e bem humorado.
Decidi ser sincero comigo e não como alguém que diz que vê a roupa do rei nú. Que confia em Deus como alguém de verdade, e que teme ser engolido por uma baleia qualquer dias desses, mas que não deixa o medo te transformar num santarrão que levará conselhos de histórias vividas pelos outros, sem a experimentçaõ da vida.
Vivo a minha vida, trilho os meus caminhos. E quando saio vivo de um solavanco que Deus me dá, depois o que o medo passa eu agradeço. Pois posso assim posso compreender o porquê Jonas foi tão teimoso, mas entendo tbem o amor de um Deus que falava diretamente com ele.

By Fábio Fino

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

My friend... você é meu idAlo!!!!!!!!!!

2:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Não faça isso meu amigo Deus ele não quer te ver como uma pessoa que não crer na Biblia, e tudo o que esta na palavra foi permissão de Deus para que venhamos aprender e ser bons discipulos assim como também esperiencia pessoais, por isso não fique como ovelha sem Pastor, isso não é certo

2:12 PM  

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