28 janeiro 2008

Quero um dia poder dizer......

É comum ouvir por ai no arraial religioso, homens de fé intelectualizados pelos extensos anos de seminários com seus ternos pretos anunciarem as tantas verdades do Deus eterno.

Outro dia pesquisando sobre a história da música cristã, encontrei algumas perolas de grandes poetas que no passado sofreram perseguições religiosas pela poesia e pensamentos a frente do seu tempo que insistiam em anunciar pelas igrejas.

Esses senhores outrora jovens, não poucas vezes, foram enviados ao inferno por fazerem canções espirituais em ritmo de Samba e choro, outros com suas guitarras chifrudas eram associados equivocadamente como parceiros de satã por aspirar uma musica mais metal. Até mesmo o violão só cantava os diminutivos “Corinhos” na escola dominical, pois no solene culto da noite, somente o clássico evocava a santidade e alcançava o coração de Deus.

Hoje é engraçado notar tudo isso e muito fácil entender que essas marcas bestiais colocadas nas testas das pessoas não passavam de influência cultural e limitações intelectuais que ao longo dos anos – mas não a um preço baixo – cairiam com a evolução do pensamento contemporâneo e o acesso a informação.

Longe de querer dizer que estamos no momento supra-sumo do conhecimento. Esquecer-se do passado nos remete a cometer os mesmos erros de nossos pais.

Acredito que estou no auge dos meus 32 anos vendo a efervescência de uma nova mudança no mundo religioso que vai ainda demorar a tomar grandes proporções, mas que parece nascer no meu “contemporâneo-ano”.

Passa a ser perceptível em alguns momentos as inquietações de tantos letrados na teologia a questionarem então alguns inquestionáveis pensamentos teológicos tradicionalmente intocáveis. Parece ser tempo da antiga tradição da igreja “sempre se reformando” começar dar seus primeiros passos em direção a um novo meio de ver a Deus e as pessoas a nossa volta. Mal e porcamente plagiando “um pequeno passo para a igreja, mas um enorme passo para a liberdade dos aprisionados pela culpa.”

Já possível ver mulheres anunciando o evangelho com a mesma autoridade que os homens e com os mesmos poderes, é possível ver os homo-excluídos procurando serem incluídos e levemente ouvidos e do outro lado os tradicionais-pseudo-inseridos se esforçando por compreendê-los sob o mesmo pé de igualdade. Ainda que seja uma tentativa, é um grande passo. Principalmente quando se está de coração aberto e se achando menor que eles....

Vêem-se muitos querendo falar que Deus é amor MESMO, mas são sufocados pelo regime dos letrados que determinam o que é certo e o que é errado sob a multa de perderem seus salários.

Talvez um dia os hinários dos tradicionais cânticos das igrejas sejam devolvidos aquilo que lhes foi amputado sem permissão em nome de algo que disseram que estava errado por não parecerem muito calvinistas. Ora, diria eu, componham então suas próprias calvinistas-canções e deixem os compositores-não-teologos poetizarem a Deus como está no seu coração.

Espero poder dizer aos meus filhos e netos e ver perplexidade em seus olhos (se esse mundo ainda existir) quando eu disser que no meu tempo a igreja excluía os homossexuais, não permitia mulheres com autoridade eclesiástica, que a igreja só casava gente que mesmo mentindo se dizia pura.

Quero poder dizer aos meus filhos que meu passado era de gente medrosa que mesmo sabendo a verdade preferiam viver no auto-engano e cegueira por medo das tradições.

Que jovens eram desestimulados a questionar e que valia tudo, desde que a tradição não fosse alterada a que preço fosse.

Quero poder dizer a meus netos e filhos que o mundo pode ter piorado em muitos aspectos, mas que pelo menos a mente humana no que tange a vida com Deus evoluiu e que eu fiz parte de um tempo que me contavam que a bateria e a guitarra eram coisas do diabo, mas que hoje eu conto a eles (meus netos) e digo que do diabo mesmo foi o tempo em que vivi de alienação, medo e a covardia de se dizer e viver a verdade.

O tempo onde todos medrosamente diziam ver a roupa do rei nú.

Todo resto, mesmo que não seja de Deus, do diabo nunca será, pois o tempo é realmente o Santo remédio de DEUS e muda até mesmo aquilo que parecia não ter mais chances de mudança.

Fino